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Novo ano com poucas mudanças à vista na economia

Não anda, mas também não desanda. A expressão representa bem a perspectiva da maior parte dos analistas para a economia brasileira em 2014.

Fonte: Diário do Comércio

 Não anda, mas também não desanda. A expressão representa bem a perspectiva da maior parte dos analistas para a economia brasileira em 2014. Este ano deve ser quase uma cópia de 2013, com crescimento baixo, inflação ainda alta e deterioração das contas externas. É um cenário decepcionante em relação às expectativas que se tinha nos últimos anos em relação ao ano em que o Brasil sedia a Copa do Mundo – esperava-se uma economia pujante, cheia de oportunidades para vários tipos de empreendimento. Não vai ser assim.

Nem mesmo o ano eleitoral deve impulsionar os investimentos do governo e a reativação da atividade. Os resultados das políticas macroeconômicas adotadas de dois anos para cá (em especial, a redução mais agressiva da taxa básica de juros sem que as condições permitissem, a persistente política de desonerações tributárias para incentivar o consumo e a desastrada “contabilidade criativa” nas contas públicas) deixaram o governo “amarrado”. A equipe econômica teme, afirmam os economistas, que o Brasil tenha a nota de crédito rebaixada pelas agências de classificação de risco, o que causaria prejuízos. Assim, o Ministério da Fazenda teria pouco espaço para manobras.

“O ano de 2014 será de continuidade, talvez com um pouco mais de volatilidade dos mercados. Tenho a impressão de que o governo vai se dedicar à administração mais rígida das contas públicas e ao combate à inflação como forma de assegurar a estabilidade macroeconômica”, afirma o economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) Emilio Alfieri. “Nas condições atuais, o crescimento do Produto Interno Bruto dificilmente passa de 2%, 2,5% ao ano e, se passar disso, gerará desequilíbrios macroeconômicos”, destaca o sócio da Tendências Consultoria Maílson da Nóbrega.

Maílson tem uma avaliação que vai além do economês. Segundo ele, apesar de a situação não ser das melhores, o Brasil não desanda (desandar, para ele, equivaleria a uma transformação em países como a Argentina e a Venezuela, que têm políticas econômicas bastante heterodoxas) por um motivo muito simples: a consistência de instituições como o Judiciário e a imprensa. “Podemos, felizmente, dizer que o País tem hoje instituições democráticas sólidas, o que inibe a perpetuação de políticas econômicas populistas. Além disso, a sociedade brasileira já se mostrou intolerante à inflação, o que é uma ótima notícia. Inflação agora destrói popularidade. Diferentemente do que acontecia no passado, os governantes agora pensam muitas vezes antes de tomar medidas que possam ameaçar a estabilidade dos preços. Hoje o Executivo tem limites, precisa lidar com um conjunto de instituições que impedem ações prejudiciais à economia do País”, pondera “Não existe razão para ser pessimista considerando a mudança da mentalidade da sociedade brasileira nos últimos 30 anos”, diz o ex-ministro da Fazenda.

Esse novo desenho social, no entanto, não acaba com os problemas econômicos brasileiros, evidentemente. Um dos mais graves, em curto e médio prazos, é a piora contínua das contas externas, destacada por Alfieri. “As contas externas precisam parar de piorar. O ideal é que o déficit externo fique em torno de 2% do PIB, mas já estamos em 3,6%. É bom lembrar que, na crise cambial de 1997/1998, esse percentual era de 4%. É claro que hoje o governo pode contar com reservas cambiais muito maiores, mas não pode descuidar da área externa”, diz Alfieri. Analistas viram na decisão do governo de elevar de 0,38% para 6,38% o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para as transações com cartões pré-pagos e de débito no exterior, anunciada na última semana de 2013, um sinal de preocupação com as contas externas (embora seu efeito sobre o balanço de pagamentos seja marginal). Um problema bem maior está na balança comercial, que teve no ano passado o menor superávit em 13 anos, com as importações batendo recorde.

Alfieri observa que a situação do Ministério da Fazenda neste ano é desconfortável. “Eles terão que fazer ajustes na economia em um ano eleitoral, o que eleva os riscos desse trabalho. Por outro lado, não podem deixar todos os ajustes para 2015, sob pena de repetir o que ocorreu no período 1997/1998: o governo Fernando Henrique preferiu deixar acertos necessários para depois e acabou encarando uma crise gigante em 1999”, afirma, referindo-se à crise que culminou com o fim, em janeiro de 1999, do regime de câmbio fixo adotado desde o início do Plano Real.

Para Mailson, as mudanças hoje necessárias passam por melhora das condições para o crescimento da indústria. “O problema do Brasil é de oferta e não de demanda, como acredita o governo. Não adianta insistir em políticas de incentivo ao consumo. A questão é muito mais complexa. A indústria tem problemas porque, nos últimos anos, sofreu com aumento de salários acima da produtividade – sob pressão da maior procura do setor de serviços por trabalhadores –, logística deficiente e excesso de tributos e burocracia.”

O governo tenta reconquistar a confiança do mercado e do setor produtivo, mas vai ter muito trabalho pela frente. Se as mudanças necessárias para garantir a retomada do crescimento com inflação controlada não forem feitas em 2014, de 2015 não devem passar.

Fonte: http://www.dcomercio.com.br/2014/01/05/novo-ano-com-poucas-mudancas-a-vista-na-economia